Pesquisadores da Unicamp estão desenvolvendo uma nova proposta de Rede Social Online (RSO), depois de identificar barreiras que impedem o uso desses sistemas pelos cidadãos brasileiros
Redes Sociais mais inclusivas
23/7/2009
Por Jussara Mangini
Agência FAPESP – O e-Cidadania, uma nova proposta de rede social on-line, em desenvolvimento no âmbito do Instituto Virtual de Pesquisas FAPESP-Microsoft Research, foi apresentado nesta quarta-feira (22/7), no 29º Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (CSBC), por Vagner Figuerêdo de Santana, um dos integrantes do grupo coordenado pela professora Maria Cecília Calani Baranauskas, do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas.
Estima-se que existem, atualmente, mais de 170 sistemas de Redes Sociais Online (RSO) disponíveis na internet e que o número de acessos vem crescendo a uma taxa de 25% ao ano. De acordo com os pesquisadores, sistemas de RSO favorecem a comunicação entre pessoas em contextos variados e podem ser considerados aliados importantes em processos de inclusão digital.
“No entanto, a socialização desses sistemas em contextos de diversidade de acesso ao conhecimento, como ocorre no Brasil, depende da adequação de tais sistemas para uso universalizado”, disse Maria Cecília à Agência FAPESP.
Segundo o pesquisador, embora a temática da RSO tenha despertado o interesse recente de pesquisadores em computação e de áreas afins, não foram encontrados trabalhos na literatura que tenham buscado investigar as RSO frente às necessidades de interação do cidadão comum, especialmente dos digitalmente excluídos.
Para a equipe responsável pelo desenvolvimento do e-Cidadania, o acesso e uso das RSO só será efetivo se, de fato, for considerada a diversidade de habilidades e competências da população. Por isso, é necessário fazer com que esses sistemas motivem e viabilizem a participação dos usuários no processo de produção de conhecimento e decisão sobre seu uso.
Nesse sentido, a contribuição do e-Cidadania foi a identificação das necessidades e potencialidades da população brasileira em relação às RSO e a comparação com as características dos sistemas atuais.
“Uma vez identificadas as barreiras que impedem o acesso e uso desses sistemas pelos cidadãos brasileiros, pode-se propor diretrizes que reorientem o design de sistemas de redes sociais de forma contextualizada com nosso cenário sociodemográfico”, explicou a coordenadora.
Com base nisso, o e-Cidadania se propôs a avaliar nove sistemas, considerando requisitos de interação que incluem usuários com baixo letramento, pouca ou nenhuma experiência no uso de computadores ou com algum tipo de deficiência.
Para essa análise foram selecionadas redes sociais que aparecem entre as dez primeiras posições em volume de acessos, segundo o sistema de medição de tráfego Alexa. As redes selecionadas foram classificadas em dois tipos de intenção de uso: genéricas (interação informal, recreativa) e especializadas (relacionadas às questões de educação e emprego). Entre as genéricas foram analisadas Facebook, Hi5, Myspace, Orkut e Sonico. Entre as especializadas: Limil, LinkedIn, Ning e Xing.
Análise participativa
Em conjunto com artefatos de Semiótica Organizacional – disciplina em que são consideradas regularidades da percepção, do comportamento, de crenças e de valores – o grupo de pesquisa fez uso de técnicas e métodos do Design Participativo (DP), cujas práticas promovem a participação ativa dos usuários no processo de desenvolvimento das soluções.
Desde o início do projeto, em novembro de 2007, já foram realizadas oito oficinas no Centro de Referência da Juventude (CRJ)/Casa Brasil, um telecentro que fica na Vila União, em Campinas (SP). Essas oficinas, que acontecem ao longo do desenvolvimento do projeto, têm contado com a participação de cerca de 30 pessoas, entre elas pesquisadores e representantes da comunidade local.
O objetivo das oficinas tem sido caracterizar o público-alvo da pesquisa em sua diversidade (de gênero, idade, escolaridade, entre outros), levantar requisitos de usuário e de sistema, clarificar os problemas de interação com tecnologia digital que os usuários enfrentam e discutir com eles possíveis soluções de acesso ao conhecimento e à cultura digital via RSO.
Resultados
Fruto da análise participativa, um conjunto de diretrizes foi definido de modo que sistemas dessa natureza possam tratar melhor as reais necessidades de interação dos potenciais usuários de redes sociais no contexto da diversidade.
Entre as diretrizes estão recomendações como: prover recursos alternativos de autenticação; permitir que usuários com baixa familiaridade com a web se cadastrem no sistema; permitir que usuários não cadastrados explorem parte ou toda a RSO; possibilitar a inclusão de novos módulos ou funcionalidades e atender a requisitos básicos de acessibilidade e permitir a formação de grupos de maneira descentralizada, entre outras.
Essas diretrizes já estão sendo incorporadas em uma versão beta de um sistema denominado Vila na Rede, que foi colocado em uso como uma versão preliminar – incompleta, mas funcional – no início deste ano. O sistema está sendo desenvolvido na Unicamp, por pesquisadores de diferentes disciplinas, principalmente Ciência da Computação, Antropologia, Educação e Artes. Como acontece com aplicações Web 2.0, trata-se de um “beta-perpétuo” ou desenvolvimento contínuo, mediante a incorporação ao sistema de resultados de pesquisa.
O projeto e-Cidadania foi aprovado na primeira chamada de propostas de pesquisa do Instituto Virtual de Pesquisas FAPESP-Microsoft Research, em 2007. Até o dia 7 de agosto o instituto receberá propostas para a terceira chamada.
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