14 de jun. de 2009

Ferramentas virtuais democratizam discussão política


A Gazeta do Povo publicou hoje uma excelente série de reportagens sobre o uso da internet pelos políticos pararaenses, especialmente novas ferramentas como o twitter e redes sociais.

A reportagem é excelente não somente porque trata de um tema importante para o qual todos os cidadãos devem estar atentos, mas também porque cita corretamente as fontes consultadas, está muito bem redigida e, mais importante, faz pesquisa em fontes primárias trazendo uma útil listagem dos twitters dos políticos pesquisados.

É um ótimo exemplo de jornalismo bem feito, pouco opinativo, mas muito informativo para o cidadão. Assim que possível, analisarei com mais calma os dados da matéria. Por ora, estou sem tempo pois, coincidentemente, estou concluindo um texto sobre o uso da Web pelos candidatos à vereador nas três capitais da região Sul do país, para a SBS. (SSB -sujeito à revisão).

Publicado em 14/06/2009 | Daniela Neves e Rhodrigo Deda

Se o fenômeno da campanha eletrônica de Barack Obama despertou a atenção dos políticos brasileiros, por aqui eles ainda estão aprendendo a usar a internet para efetivar um canal de comunicação com os eleitores. Poucos aplicam as ferramentas de forma articulada, preferindo noticiar atividades em websites sem interatividade com os internautas.

Para o cientista político Sérgio Braga, professor da Universidade Federal do Paraná e especialista em comunicação política pela internet, o fato de políticos estarem ocupando espaço em sites, blogs, microblogs é um bom sinal, mas ainda falta muito para que aprendam a usar de forma inteligente. “Esses espaços devem servir para que ele fidelize o eleitor, colocando seus posicionamentos políticos, anunciando como votou ou como pretende votar em determinada matéria, permitindo essa transparência com o eleitor.”, diz. Para o professor, é um erro de estratégia enviar mensagens de cunho mais pessoal, por exemplo, quando se trata de um político conhecido, que deve ser claro em suas intenções.

Em uma pesquisa que realizou em sites de parlamentares de toda a América do Sul, Braga concluiu que os políticos usam pouco, e mal, os meios eletrônicos. Não articulam notícias com vídeos, não permitem a criação de redes de mobilização em torno de temas de interesse público, não usam a internet para expressar propostas e opiniões em uma forma que não cabe em outras mídias, como jornal e rádio. “O uso da internet ainda engatinha na América do Sul pois os políticos não usam a potencialidade que o meio oferece”.

Alguns exemplos que fogem dessa regra são os sites de campanha do prefeito reeleito Gilberto Kassab (DEM) de São Paulo, e do prefeito curitibano Beto Richa (PSDB), que permitia envio de vídeos e de fotografias pelo site de campanha. A grande vantagem do meio virtual, segundo Braga, é o baixo custo, que barateia não só a alimentação da mídia como o acesso. “Dizer que só classe média teria acesso ao diálogo eleitoral on-line é coisa ultrapassada. Os vídeos mais acessados no YouTube no Brasil, por exemplo, são de RAP, uma expressão bem popular. Hoje você tem acesso em lan houses e celulares”, diz. O que muda, na opinião do cientista político, é que será preciso ser cada vez mais propositivo, já que lideranças tradicionais tendem a perder espaço nesse novo tipo de comunicação com eleitores.

A democratização do debate também é o argumento a favor da liberação da campanha pela internet defendido por Eneida Desirré Salgado, professora de Direito Eleitoral da Universidade Federal do Paraná. Ela diz que os meios virtuais podem, quando gratuitos e acessíveis a todos, contribuir para um debate mais igualitário de forma mais eficiente, já que a espetacularização da política esvazia o debate, colocando slogans e imagens no lugar de conteúdo e propostas. “É difícil controlar abusos na internet, mas ofensas, ou coisas dessa natureza, a legislação atual já dá conta”, diz.

O coordenador de Projetos da Transparência Brasil, Fabiano Angelico, considera potencialmente positivo a entrada dos políticos na arena virtual. “É uma tendência mundial, mas depende do uso que se faz.” Segundo ele, ferramentas on-lines, como o Twitter, aproximam o eleitor de seus representantes, mas é preciso que as pessoas encarem o uso do serviço de forma crítica. “É preciso que as pessoas façam perguntas relevantes e compreendam que a ferramenta não está sendo usada pelo político de maneira espontânea”, diz Angelico. “Eles (os políticos) estão interessandos em falar, mas não em ouvir. É importante que a sociedade se faça ouvir, porque essa ferramenta predispõe a troca.”

Nessa perspectiva, o jornalista Marcelo Soares, comentarista político do Notícias da MTV criou um bordão para o uso do Twitter feito por políticos: “Não siga os políticos no Twitter. Fique na cola deles.” Soares explica que a distância entre o representante eleito e o eleitor é muito distante e as novas mídias podem dminuí-la. Mas, diz ele, para que isso ocorra, é preciso que os políticos passem a responder às perguntas dos eleitores. “A partir da interação, a sociedade pode tentar virar o feitiço contra o feiticeiro, pois o político tem de ouvir e responder o cidadão.”

Órgãos públicos e políticos despertam para as redes sociais

Uso ainda é limitado entre paranaenses

No Paraná, o número de adeptos às mídias sociais ainda é pequeno, mas quem as usa só aponta vantagens. “A internet, de um modo geral, é uma excelente ferramenta de prestação de contas com a população”, resume o deputado estadual Osmar Bertoldi (DEM), que utiliza as redes MySpace, Facebook, Orkut e Twitter.Saiba mais

Vocabulário

Conheça o jargão da internet:

Mídias sociais: ferramentas on-line de interação entre usuários.

Blog: página de Internet cuja estrutura permite a atualização rápida a partir de acréscimos dos chamados “artigos”, ou “posts”.

Twitter: serviço de “microblogs” que permite a publicação de mensagens de até 140 caracteres.

YouTube: serviço on-line que permite que os usuários carreguem e compartilhem vídeos em formato digital.

Facebook e Orkut: serviços de rede social usados para para manter relacionamentos e estabelecer novas amizades, permitindo divulgação de fotos e vídeos.

MySpace: serviço de rede social que usa a Internet para comunicação online através de uma rede interativa de fotos, blogs e perfis de usuário.

Flickr: serviço de hospedagem e compartilhamento de imagens fotográficas, documentos gráficos, desenhos e ilustrações, caracterizado também como rede social. Permite que os usuários criem álbuns para guardar suas imagens e entrarem em contato entre si.


Instituições públicas e políticos brasileiros começam lentamente a aderir às chamadas mídias sociais (ferramentas on-line de interação entre usuários) para divulgar suas ações e estabelecer um contato mais direto com a população. Com números cada vez maiores de inscritos, serviços como Orkut, YouTube, Facebook e Twitter tendem a se tornar meios de comunicação indispensáveis para a administração pública, apontam especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

Na semana passada, a Câmara dos Deputados começou a discutir mudanças na legislação com o intuito de liberar o uso da internet como meio de propaganda e captação de doações para a campanha eleitoral de 2010. Pela legislação atual, candidatos podem apenas manter sites oficiais de campanha (com extensão .can).

Enquanto não chegam as eleições, no entanto, políticos e instituições procuram todo tipo de ferramentas para se comunicar com a sociedade. Até a Presidência da República anunciou, em abril, a criação de um blog oficial. A previsão é que a ferramenta seja lançada até o fim deste ano.

No início de maio, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) anunciaram a criação de um canal oficial no site de compartilhamento de vídeos YouTube, maior do gênero na internet. Segundo a assessoria de imprensa do STF, a parceria foi firmada com o intuito de melhorar o relacionamento do órgão com a sociedade.

A Câmara dos Deputados também aderiu à moda das redes sociais e, no fim de maio, lançou sua página oficial no Twitter, serviço de microblogs que permite a publicação de mensagens de até 140 caracteres. O perfil apresenta diariamente a agenda do dia das comissões e da plenária, e a previsão de cobertura da Agência Câmara de Notícias, órgão oficial da Casa. Em cerca de três semanas, o número de seguidores já chega a quase 400. A Agência Senado não ficou atrás e, no início de junho, também criou um perfil no serviço de microblogging. De acordo com a Agência, a ferramenta foi adotada por ter se tornado um meio rápido e prático de divulgar notícias e outras informações.

Mas nenhuma dessas instituições fez mais sucesso que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que garantiu seu espaço oficial no Twitter no dia 18 de maio. Em menos de um mês, o perfil já agregou quase 7 mil seguidores, que acompanham mensagens como “Daqui a pouco, assino projeto de lei contra o preconceito racial”, do dia 4 de junho, e “Trabalho hoje ouvindo Esses Moços, de Lupicínio, com Gal Costa”, postada na última quarta-feira (10).

Para o cientista político Sérgio Braga, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e especialista em comunicação política via internet, embora estejam seguindo tendências mundiais, os políticos brasileiros ainda não têm utilizado a rede mundial de computadores da maneira mais adequada.

“Os políticos estão entrando nessa onda Obama sem saber usar direito [as ferramentas]. Mas o importante é constar que eles estão se mantendo atualizados”, diz. Na opinião do cientista político, os brasileiros não podem parar no tempo e devem, sim, utilizar todas as ferramentas disponíveis na internet, seja por meio de vídeos, blogs, ou redes de interatividade

Arena eleitoral migra da rua para a rede

Mudanças na legislação devem liberar uso de ferramentas virtuais e barrar excessos das campanhas tradicionais

Publicado em 14/06/2009 | Daniela Neves

Aquela mobilização de cabos eleitorais na rua, com cartazes, “pirulitos”, camisetas e som é imagem do passado. A cada ano, a legislação eleitoral brasileira tende a restringir campanha de ruas e liberar o meio virtual.

As discussões sobre a reforma eleitoral que ocorrem na Câmara Federal indicam esse caminho. A legislação sobre o uso da internet nas eleições deve diminuir quase que totalmente as restrições desse meio, reforçando a necessidade dos políticos concentrarem atenção não só em seus websites, como em outras ferramentas, como blogs YouTube e microblogs (Twitter).

O uso da internet está sendo discutido por uma comissão criada no início do mês na Câmara para elaborar a proposta de reforma. Cinco projetos tramitam, permitindo não só a liberação da campanha, como arrecadação de recursos pelos sites feita por meio de cartão de crédito. A Câmara deve votar essa proposta até setembro, evitando que mais uma vez a legislação sobre campanha fique a cargo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Pelas resoluções votadas nas últimas eleições, os candidatos podiam manter um site de campanha montado exclusivamente para esse período – a partir de 6 de julho – e para veicular notícias eleitorais. A campanha de 2008 foi flexível com as demais plataformas, como redes de relacionamento, já que o TSE não resolveu nada a respeito, passando a regulamentação para o juiz eleitoral de cada cidade e eventualmente para as cortes de tribunais regionais eleitorais.

Em Curitiba, houve um questionamento na Justiça Eleitoral sobre a comunidade aberta por um integrante do Orkut, apoiando um candidato a prefeito. O uso foi barrado pelo juiz eleitoral, que entendeu ser uma manifestação individual de um eleitor.

O TSE, já adiantado ao processo da reforma, estuda formas de viabilizar a doação para candidatos pela internet, como já ocorre nos Estados Unidos. O presidente do TSE, ministro Carlos Ayres Britto, é um dos defensores do uso da internet na campanha e pediu aos técnicos um levantamento sobre formas de doação on-line.

Política na internet

Estados Unidos

Após arrecadação milionária, Obama torna-se exemplo

Publicado em 14/06/2009

A campanha do agora eleito presidente norte-americano, Barack Obama, no ano passado, causou uma revolução na perspectiva do uso da internet pelos políticos. Como ninguém, a equipe de Obama entendeu a potencialidade do meio e a interação dos vários tipos de mídia on-line.

Através do site, não só atingiu os eleitores – fazendo com que eles seguissem a campanha – como conseguiu mobilizar voluntários que organizaram eventos em suas localidades, ainda responder imediatamente a ataques políticos e arrecadar dinheiro de pequenos contribuintes via página eletrônica (o que já era possível pela legislação norte-americana). Segundo dados divulgados pelos organizadores da campanha, mais de US$ 660 milhões foram arrecadados pelo site, dinheiro usado para propaganda na tevê na reta final de campanha.

A equipe aliou as notícias de campanha no site a plataformas abertas como YouTube, twitter e Facebook, que têm um custo baixo. Pelo site mybarackobama.com, criou redes de mobilização, canais para interatividade dos eleitores que enviavam informações aos comitês. Nem jogos on-line foram esquecidos e neles foram colocados anúncios de campanha. Além de jovens, acostumados com a linguagem, atingiu o público com mais idade, não acostumada a tanta novidade virtual, com mensagens rápidas por e-mail. (DN)

Menos complicado, Twitter vira “diário” dos políticos

Publicado em 14/06/2009

Em meio a milhões de anônimos, o prefeito de Curitiba Beto Richa (PSDB) é um dos usuários que diariamente acessa o Twitter. Sempre a partir do computador, Richa procura atualizar seu espaço de duas a três vezes por dia. Ele conta que começou a utilizar a ferramenta por acaso, sem nenhuma estratégia política pré-definida. “Estava conversando com alguns amigos que já participavam e me despertou a curiosidade de entrar nesse mundo”, diz o prefeito, que garante atualizar pessoalmente o microblog, lançado há cerca de um mês e meio. “Gasto aproximadamente uma hora por dia com o Twitter. Às vezes publico mensagens de casa, às vezes da prefeitura, entre uma audiência e outra”, relata.

Outra que atualiza constantemente seu perfil é a atual presidente estadual do PT, Gleisi Hoffmann, candidata derrotada à prefeitura de Curitiba no ano passado. Até as eleições de 2008, ela mantinha um blog pessoal, mas acabou descontinuando a iniciativa por falta de tempo. “O Twitter é muito mais simples e rápido, e posso atualizar de qualquer lugar onde estiver”, explica Gleisi, que costuma enviar seus “tweets” pelo celular. Ela conta que foi a responsável por incentivar o marido, o ministro do Planejamento Paulo Bernardo (PT), a também se inscrever na ferramenta. “Ele tem muitas opiniões interessantes, que as pessoas me diziam que querem conhecer”, diz.

Gleisi afirma que, por causa das agendas lotadas, ela e o marido, a quem chama de “PB” na internet, às vezes acabam se comunicando pelo Twitter antes de se conversarem pessoalmente. “Principalmente quando ele reclama que tem que cozinhar”, diverte-se. As mensagens de foro pessoal, ressalta a petista, ajudam a aproximar a figura do político da população. “Principalmente para o pessoal entender como conciliamos trabalho com família”.

Já Richa prefere usar o serviço para informar seus seguidores a respeito de ações oficiais. Vez ou outra, dispara um comentário pessoal. “Muito frio. Mesmo assim, seria bom correr no Barigui. No inverno as manhãs ficam mais bonitas. Pena que não tenho tempo”, postou no dia 1º de junho. “Comecei agora no Twitter, ainda estou me adaptando”, explica o prefeito.

Fonte: Gazeta do Povo (14/06/2008)

Nenhum comentário: