“Não haverá uma reação contra regimes autoritários pela internet de uma hora para a outra. Mas, sim, diversos movimentos ‘moleculares’, muitas vezes imperceptíveis, que vão mudando o regime até que ele se desagregue.”
Publicado em 28/12/2009 Rhodrigo Deda
Publicado em 28/12/2009 Rhodrigo Deda
Atento a como a democracia está repercutindo na internet, o professor de ciência política Sérgio Braga, da Universidade Federal do Paraná, considera que a rede irremediavelmente vai alterar regimes autoritários. Para o professor, a natureza do meio dificulta que países tenham mecanismos de controle sobre o que é veiculado na rede. Ele ressalta também que a internet descentraliza o fluxo de comunicação, permitindo o acesso de diversas fontes de informação.
Segundo Braga, que foi organizador do “Dossiê internet e política”, lançado neste mês pela Revista de Sociologia Política, a tendência é que regimes autoritários acabem perdendo a guerra pelo controle da rede e lentamente comecem a reduzir suas tentativas de criar obstáculos para o acesso à informação on-line. “A internet pode ter um papel importante contra regimes autoritários. Acho que a tendência é de que o controle da rede seja reduzido.”
Segundo Braga, que foi organizador do “Dossiê internet e política”, lançado neste mês pela Revista de Sociologia Política, a tendência é que regimes autoritários acabem perdendo a guerra pelo controle da rede e lentamente comecem a reduzir suas tentativas de criar obstáculos para o acesso à informação on-line. “A internet pode ter um papel importante contra regimes autoritários. Acho que a tendência é de que o controle da rede seja reduzido.”
Em entrevista à Gazeta do Povo, ele conta como a internet pode aperfeiçoar a democracia.
Qual o impacto da internet na prática política?
A internet acaba com o monopólio de informação de países não democráticos. Ela tende a descentralizar os fluxos de comunicação, acaba com o controle verticalizado. O Fidel Castro, em Cuba, chegou a fazer comícios em que lia manchetes de jornais estrangeiros. Lia artigos de outros países, para a população que não tinha acesso. Agora, com a internet, você horizontaliza os fluxos de informação. A internet dificulta mecanismos de controle centralizados.
Mas hoje ainda há mecanismos para barrar acesso a sites e controlar a internet, principalmente em países autoritários...
A tendência é que esses mecanismos sejam progressivamente eliminados. Na China, é preciso de autorização, identificação, para uso da internet. Mas a internet pode ter um papel importante contra regimes autoritários. Acho que a tendência é de que o controle da rede seja reduzido. Os regimes deverão lentamente se tornar mais flexíveis ao acesso à informação.
O senhor tem a tese de que a rede é aliada da democracia. Porém, há alguns meses, o jornal New York Times publicou artigo em que mostrava que países autoritários, como China e Irã, entraram na era da contrainformação. Passaram a usar a rede em favor de seus regimes. Que leitura o senhor faz desse fato?
É uma reação à liberdade que a internet traz. Isso mostra que esses países sentiram o golpe. Sempre que o regime autoritário tem uma reação dessa natureza, mostra que levou um golpe. Não haverá uma reação contra regimes autoritários pela internet de uma hora para a outra. Mas, sim, diversos movimentos “moleculares”, muitas vezes imperceptíveis, que vão mudando o regime até que ele se desagregue. Essa interação faz com que eles, em algum momento, se vejam obrigados a se abrirem cada vez mais. Porque as pessoas vão querer abrir seus países, para terem opções de consumo, acesso a opções de lazer diferentes, que são limitadas pelos regimes autoritários. No Brasil, as crises dos regimes autoritários vieram também com uma crise nas opções de consumo e lazer da população, acesso à literatura, à cultura. Enfim, a democracia não é só um sistema político, envolve também outras características.
Serviço: a Revista de Sociologia Política pode ser acessada pelo site http://www.scielo.br/ , no link periódicos.
Fonte: Gazeta do Povo
Qual o impacto da internet na prática política?
A internet acaba com o monopólio de informação de países não democráticos. Ela tende a descentralizar os fluxos de comunicação, acaba com o controle verticalizado. O Fidel Castro, em Cuba, chegou a fazer comícios em que lia manchetes de jornais estrangeiros. Lia artigos de outros países, para a população que não tinha acesso. Agora, com a internet, você horizontaliza os fluxos de informação. A internet dificulta mecanismos de controle centralizados.
Mas hoje ainda há mecanismos para barrar acesso a sites e controlar a internet, principalmente em países autoritários...
A tendência é que esses mecanismos sejam progressivamente eliminados. Na China, é preciso de autorização, identificação, para uso da internet. Mas a internet pode ter um papel importante contra regimes autoritários. Acho que a tendência é de que o controle da rede seja reduzido. Os regimes deverão lentamente se tornar mais flexíveis ao acesso à informação.
O senhor tem a tese de que a rede é aliada da democracia. Porém, há alguns meses, o jornal New York Times publicou artigo em que mostrava que países autoritários, como China e Irã, entraram na era da contrainformação. Passaram a usar a rede em favor de seus regimes. Que leitura o senhor faz desse fato?
É uma reação à liberdade que a internet traz. Isso mostra que esses países sentiram o golpe. Sempre que o regime autoritário tem uma reação dessa natureza, mostra que levou um golpe. Não haverá uma reação contra regimes autoritários pela internet de uma hora para a outra. Mas, sim, diversos movimentos “moleculares”, muitas vezes imperceptíveis, que vão mudando o regime até que ele se desagregue. Essa interação faz com que eles, em algum momento, se vejam obrigados a se abrirem cada vez mais. Porque as pessoas vão querer abrir seus países, para terem opções de consumo, acesso a opções de lazer diferentes, que são limitadas pelos regimes autoritários. No Brasil, as crises dos regimes autoritários vieram também com uma crise nas opções de consumo e lazer da população, acesso à literatura, à cultura. Enfim, a democracia não é só um sistema político, envolve também outras características.
Serviço: a Revista de Sociologia Política pode ser acessada pelo site http://www.scielo.br/ , no link periódicos.
Fonte: Gazeta do Povo
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