A edição de ontem da Gazeta do Povo publicou três longas reportagens sobre o uso da internet pelos políticos brasileiros. Numa delas, divulgamos resultados parciais de algumas pesquisas que realizamos sobre o assunto. Em breve, postaremos neste blog as versões integrais de algumas delas. [SSB]
Vida Pública
Segunda-feira, 11/05/2009
(Não) fale conosco
Políticos usam mal a internet como instrumento de diálogo com os cidadãos. Uns demoram a responder, outros são grosseiros e a maioria ignora os e-mails recebidos
Publicado em 10/05/2009 | Brasília e Curitiba - André Gonçalves e Euclides Lucas GarciEntrar em contato com a maioria dos políticos em exercício de mandato exige bastante paciência por parte do cidadão. Apesar das novas ferramentas digitais, como blogs e twitter, além do não tão recente e-mail e das velhas cartas de papel, a população encontra dificuldades para dialogar com seus representantes.
Nos últimos dois meses, a Gazeta do Povo enviou e-mails com nomes fictícios sobre variados temas para o presidente Lula (PT), o governador Roberto Requião (PMDB), o prefeito Beto Richa (PSDB) e os 30 deputados federais e três senadores do estado. Obteve apenas 11 respostas até sexta-feira.
Requião foi o mais ágil, embora quase todas as respostas encaminhadas por ele tenham sido agressivas.
Dentre os congressistas, o senador Osmar Dias (PDT) e o deputado federal Dr. Rosinha (PT) foram os únicos parlamentares a retornar as mensagens. Assim como eles, todos demais foram questionados sobre o escândalo das passagens aéreas.
Ao prefeito Beto Richa, a reportagem pediu explicações sobre a prorrogação do contrato com a empresa que opera o sistema de radares em Curitiba – o que foi questionado pelo Ministério Público Estadual. Uma outra mensagem solicitava informações sobre a conclusão das obras na Linha Verde. Apesar de a assessoria da prefeitura garantir que o prazo médio de retorno dos e-mails é de três dias, ambas as mensagens – que, de fato, esclareceram as dúvidas levantadas – foram respondidas somente nove dias depois do envio.
O presidente Lula foi questionado no dia 22 de abril sobre as ações do governo federal para amenizar a crise no comércio de carros usados. De acordo com o departamento responsável pela correspondência do Palácio do Planalto, as respostas costumam demorar no máximo dez dias. No entanto, a mensagem da Gazeta do Povo foi respondida no 12º dia e apenas agradecia o envio do e-mail.
Blogs
No mesmo dia em que a mensagem foi enviada, o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, anunciou que o presidente deve criar um blog até o final do ano.
A ferramenta foi utilizada durante toda a campanha de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos e foi mantida após a posse na Casa Branca. Obama também usa o twitter e conseguiu a maior parte das doações por meio do site de campanha.
No Brasil, o Tribunal Superior Eleitoral deve entregar até o final deste mês um estudo sobre a viabilidade das doações eleitorais pela internet.
Entre os congressistas paranaenses, apenas Alvaro Dias (PSDB) tem um blog. A ferramenta também foi utilizada por Beto Richa e Gleisi Hoffmann (PT) durante a campanha à prefeitura de Curitiba. Gleisi atualmente usa o twitter, assim como o marido, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Problema geral
O descaso com o uso de instrumentos digitais de comunicação com os eleitores não é restrito aos políticos do Paraná. O cientista político Sérgio Braga, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), fez uma pesquisa em maio de 2008 nas 27 assembleias legislativas do país e detectou que 66% dos 1.059 deputados estaduais brasileiros não têm site próprio.
Logo depois, durante as eleições municipais, Braga fez um levantamento entre os cerca de 1,5 mil candidatos a vereadores das três capitais do Sul do Brasil – Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. Apenas 366 construíram sites de campanha.
Segundo ele, os políticos ainda não perceberam os ganhos possíveis com o uso da internet. “A maioria dos deputados, por exemplo, não tem o hábito de responder a e-mails porque acha que o mandato está mais ligado a outras coisas, que não tem a ver com o diálogo com o eleitor”, explica.
No entanto, o cientista político destaca que as ferramentas digitais ajudam a dar credibilidade aos governantes. “Elas são a melhor maneira de dar transparência às campanhas e mandatos, mas não têm resultado imediato. Servem como uma maneira de fidelizar o eleitor ao longo do tempo.”
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